Aristides de Sousa Mendes, também conhecido por Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, nasceu em Cabanas de Viriato, a 19 de julho de 1885 e faleceu em Lisboa, a 3 de abril de 1954. O seu irmão gémeo César nasceu algumas dezenas de minutos antes, comemorando o seu aniversário no dia anterior. Pertencia a uma família aristocrática rural, católica e monárquica, qualidades que partilhava, apoiando inclusivamente a contra-revolução conhecida como "Monarquia do Norte". O seu pai, José de Sousa Mendes, era juiz no Tribunal da Relação de Coimbra.
Aristides instala-se em Lisboa em 1907, após concluir, juntamente com o seu irmão gémeo, a licenciatura em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. César envereda pela carreira diplomática, mais política, ao passo que Aristides envereda pela carreira consular. Nesse mesmo ano casa-se com Maria Angelina Coelho de Sousa, sua namorada de infância, com quem teve catorze filhos, nascidos nos diversos países em que Sousa Mendes esteve colocado.
Enquanto Cônsul de Portugal em Bordéus, no ano da invasão da França pela Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial, desafiou ordens expressas da famosa Circular 14 do ditador António de Oliveira Salazar, que acumulava a função de ministro dos Negócios Estrangeiros, e durante três dias e três noites concedeu milhares de vistos de entrada em Portugal a refugiados de várias nacionalidades que desejavam fugir da França em 1940. Segundo as suas palavras, a sua consciência ditou-lhe a desobediência: "Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus."
O número total de vistos passados por Sousa Mendes é desconhecido, devido a muitos deles terem sido passados sem que deles se fizesse registo. Algumas fontes apontam, contudo, o número de judeus salvos do holocausto por Sousa Mendes na ordem dos dez mil, mas é de notar que, na época, cada visto podia ser individual, para o casal com ou sem filhos, pelo que se calcula um possível total de trinta mil refugiados a quem terá passado vistos durante a Segunda Guerra Mundial.
A 4 de Julho de 1940, após retornar à casa da família em Cabanas do Viriato, Salazar ordenou uma investigação sobre as ações de Aristides de Sousa Mendes em Bordéus, dando início a um processo disciplinar formal contra o cônsul, que foi sentenciado a um ano de inatividade, com direito a metade do salário do seu escalão, Cônsul de Primeira Classe, obrigando-se este à aposentação findo este prazo. À parte um decreto datado de Março de 1942, mencionando o seu estado de inativo no serviço, "aguardando a aposentação", esta foi a última menção oficial da parte do governo sobre este caso. Aparentemente, a lei que promulgaria a sua aposentação nunca foi publicada.
Em 1948 morre a sua mulher Angelina e Aristides casa-se com a sua amante Andrée Cibial. A filha do casal, Marie-Rose continua a viver em França, onde é criada e educada por uns tios.
Aristides veio a morrer endividado e só em 1954, acompanhado apenas por uma sobrinha, no hospital particular da Ordem Terceira de São Francisco da Cidade.
Homenagens - algumas datas importantes:
Em Agosto de 1940, a escritora Gisèle Quittner Allatini escreveu para Aristides de Sousa Mendes agradecendo a ajuda recebida em Bordéus:
- «Faço questão de lhe escrever para lhe dizer da profunda admiração que têm por si em todos os países onde exerceu as funções de cônsul. O Senhor é para Portugal a melhor das propagandas, e uma honra para a sua Pátria. Todos aqueles que o conheceram elogiam a sua coragem, o seu grande coração. O seu espírito cavalheiresco, e acrescentam: se os Portugueses são como o Cônsul Geral Mendes, são um povo de cavalheiros e de heróis”. Os ecos deste agradecimento de Gisèle Quittner Allatini foram publicados na imprensa da época.
Em 1966, o Memorial de Yad Vashem (Memorial do Holocausto situado em Jerusalém) em Israel, presta-lhe homenagem atribuindo-lhe o título de "Justo entre as nações". Já em 1961, haviam sido plantadas vinte árvores em sua memória nos terrenos do Museu Yad Vashem.
Em 15 de Novembro de 1986, foi condecorado, a título póstumo, com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade. O presidente da República Portuguesa Mário Soares reabilita assim Aristides de Sousa Mendes e a sua família recebe as desculpas públicas.
Em 1995, a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (ASDP) cria um prémio anual com o seu nome.
Em 1998, a República Portuguesa, na prossecução do processo de reabilitação oficial da memória de Aristides de Sousa Mendes, condecora-o com a Cruz de Mérito a título póstumo pelas suas ações em Bordéus.
Em 2005, na Grande Sala da UNESCO em Paris, o barítono Jorge Chaminé organiza uma Homenagem a Aristides de Sousa Mendes, realizando dois Concertos para a Paz, integrados nas comemorações dos 60 anos da UNESCO.
A Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, em ruínas. |
A Casa do Passal, depois do seu restauro exterior. |
Em 2006 foi realizada uma ação de sensibilização: "Reconstruir a Casa do Cônsul Aristides de Sousa Mendes", na sua antiga casa em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal e na Quinta de Crestelo, Seia - São Romão.
Em 2007 um programa televisivo da RTP1, Os Grandes Portugueses, promoveu a escolha dos dez maiores e importantes portugueses de todos os tempos. Sousa Mendes foi o terceiro mais votado. Ironicamente, o primeiro lugar foi atribuído a Salazar, e o segundo lugar a Álvaro Cunhal.
Em 3 de abril de 2017, foi elevado, a título póstumo, a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Em 3 de julho de 2020, a Assembleia da República concedeu-lhe Honras de Panteão Nacional, tendo em vista «homenagear e perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes, enquanto homem que desafiou a ideologia fascista, evocando o seu exemplo na defesa dos valores da liberdade e dignidade da pessoa humana.» A cerimónia teve lugar em 19 de outubro de 2021, tendo nela participado as mais altas entidades portuguesas, designadamente, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues, e o Primeiro-Ministro António Costa.
In Wikipédia (texto com ajustes pela Equipa da BE)
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